Reportagens

Cem anos de caligrafia

 A história de uma escola de caligrafia em São Paulo que sobrevive aos tempos da internet

Tem ares de contos de fadas, mas é assim que a Escola de Caligrafia De Franco, em São Paulo, nasceu, cem anos atrás, conta o professor Antonio De Franco. Sua trisavó, Ida, nasceu numa família nobre na Itália. Apaixonou-se por um plebeu e, sem poder se casar com ele lá, veio para o Brasil na década de 1880 para poder ficar com ele em paz.

Candidatos fazem aulas de caligrafia para passar em concurso e vestibular

Escrita à mão requer muito treino, diz professor de escola especializada. Professor dá dicas de como obter uma letra bonita.

Depois de ser reprovado em um concurso público para juiz do trabalho, advogado Ricardo Calcini, de 31 anos, chegou à conclusão que por mais que estudasse seria difícil conseguir passar nas provas dissertativas com uma letra quase ilegível. O problema não eram seus argumentos, mas fazer com que a banca examinadora conseguisse entender o que estava escrito nas suas respostas. Para corrigir o problema, ele resolveu fazer um curso de caligrafia.

Vestibulandos, concurseiros e alunos com a “letra feia” procuram aulas de caligrafia em SP

Há quase 100 anos a família De Franco se dedica ao ensino da caligrafia.

Mas, será que em um “mundo cada vez mais conectado”, em que crianças interagem logo cedo com tablets e computadores, alguém ainda se preocupa em ter uma boa letra? Em meio a pilhas de exercícios de caligrafia, a resposta para o professor Antonio De Franco Neto é sim.

Os últimos da espécie: professor de caligrafia

Antonio De Franco Neto forma cerca de 1.000 alunos por ano em sua escola de caligrafia

O mestre Antonio De Franco Neto, de 63 anos, chama o peculiar expediente familiar de “técnica de abordagem”. Funciona assim: até completarem 11 anos, os herdeiros são proibidos de mexer em qualquer tipo de material usado para ensinar caligrafia. Canetas, tintas, folhas de exercícios, o que mais for. “Até essa idade, eles só podem olhar. ‘Isso é coisa séria’, a gente costuma dizer. E aquilo se torna o proibido, né?”, explica ele, em meio às pilhas de pastas de exercícios que se amontoam sobre a sua mesa, na Escola de Caligrafia De Franco, em Pinheiros.